Esses dias eu estava lendo um artigo no qual o autor fez referência ao hino do Rio Grande do Sul, dizendo que não podemos deixar o “valor” e a “constância” se tornarem palavras sem sentido em hinos e poesias. Os últimos acontecimentos são bons motivos para esta reflexão, que vai muito além do significado destas palavras, procurando resgatar os valores que alicerçaram a construção da nossa identidade. Os políticos realmente têm afrontado o “valor” que tanto prezamos no nosso hino. Podemos lhes atribuir esta responsabilidade, afinal os escândalos de corrupção estão cada vez mais reincidentes. Quanto à virtude da “constância”, no entanto, acho que não podemos segmentar os responsáveis pela sua violação.
Confesso que até aquele momento eu não havia realizado uma maior reflexão sobre o significado da palavra “constância” no contexto do nosso hino. Entre as definições de “constância” expostas pelo dicionário Houaiss (Editora Objetiva, Rio de Janeiro: 2001, fl. 812), aquelas que mais se encaixam no hino rio-grandense são: “qualidade daquele que não falta a uma tarefa”, “persistência”, “obstinação”, e, principalmente, “perseverança”. O hino é um clamado ao povo Gaúcho mostrar “valor e constância nesta ímpia e injusta guerra”. Aprendemos a respeitar as frases deste hino mais do que as do próprio hino nacional, pois os seus versos nos remetem a uma identidade cultural e de luta singular do povo rio-grandense. Mas, será que não estamos desapontando os seus compositores? Será que não estamos envergonhando o brado Farroupilha? Embora aos políticos, em geral, esteja faltando constância, também devemos fazer um “mea culpa”.
O povo parece estar tão anestesiado com as reiteradas denúncias de corrupção que nada mais o abala. O escândalo envolvendo o governo do PT – tido por muitos como ético, como a “salvação da lavoura” – parece ter sepultado o poder de reação popular. Hoje, no âmbito estadual, permaneço incrédulo ante a total ausência de valor por parte dos políticos e de constância por parte da população. Mesmo com gravações de todos os tipos mostrando a escancarada imoralidade na Administração Pública do Estado, as pessoas seguem estáticas, conformadas. Estamos vitimizados ante a ação dos políticos, como se não fizéssemos parte do espectro político do Estado. Onde está a perseverança, a persistência, a obstinação do povo Gaúcho? Fosse há tempos atrás, não nos conformaríamos com a máxima de que “político é tudo corrupto”. Expulsaríamos os corruptos do poder e elegeríamos novos governantes para nos guiar. Verificando qualquer sinal de desvio deste novo governante, o ato de bravura seria repetido até que alguém honrado chegasse ao poder. Isto é constância! E é isto que está faltando ao povo Gaúcho para que as nossas façanhas voltem a servir de modelo a toda terra.
“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons” (Martin Luther King).
Para quem não é do Rio Grande do Sul, conheça o nosso hino (letra de Francisco Pinto da Fontoura, música de Comendador Maestro Joaquim José Mendanha e harmonização de Antônio Corte Real):
Como aurora precursora
Do farol da divindade
Foi o vinte de setembro
O precursor da liberdade
Refrão
Mostremos valor constância
Nesta ímpia injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra
De modelo a toda terra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra
Mas não basta pra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo
(repete refrão)
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