segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Hugo Chávez e Álvaro Uribe

Hugo Chávez, Álvaro Uribe e a estranha posição da mídia brasileira.

Uribe cogita nova reeleição na Colômbia. Nossa mídia o contestará?
O comportamento de nossa mídia tão crítica a Hugo Chávez poderá ser melhor compreendido atentando-se para o tratamento que será dado a esse novo projeto dos partidários do presidente Álvaro Uribe, na Colômbia.
Atacada pela grande imprensa brasileira como mais um passo rumo ao “regime ditatorial”, a proposta de conceder ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o direito de tentar se reeleger foi avaliada (e rechaçada) pelos próprios venezuelanos, através do plebiscito popular ocorrido no dia 2 de dezembro de 2007. O direito a mais de uma reeleição era apenas um dos itens do projeto de reforma constitucional, que propos também o estabelecimento de novos tipos de propriedade além da privada e a eliminação da autonomia do Banco Central. Entretanto, tem sido aquele item o mais destacado, a ponto de parlamentares brasileiros usarem a cláusula democrática do Mercosul para tentarem evitar a entrada da Venezuela no bloco. A dúvida que fica é se a restrição a Chávez tem mesmo a ver com preocupações democráticas ou se passa sobretudo pelas divergências ideológicas entre o venezuelano e seus críticos. Uma prova dos nove poderá ser feita com a visibilidade a ser dada para os debates sobre a reeleição que começam a ganhar força na Colômbia. O atual presidente Álvaro Uribe governou o país entre 2002 e 2006, quando a reeleição era proibida, mas conseguiu alterar a Constituição e participar novamente da disputa no ano passado, que venceu. Agora, segundo reportagem da Agência Ansa, o ex-congressista Luis Guillermo Giraldo, considerado próximo ao presidente, abraçou a idéia de fazer uma campanha para permitir que Uribe se candidate novamente, em 2011. O projeto prevê a criação de um comitê e a coleta de assinaturas a favor da proposta. Em público, Uribe rechaçou a idéia, mas nos bastidores, também segundo a Ansa, teria admitido concorrer. A grande imprensa brasileira denunciará essa manobra do líder colombiano rumo a “ditadura” ou o que vale para a Venezuela não vale para a Colômbia? Em si, a possibilidade de um membro de cargo executivo se reeleger mais de uma vez, tomada isoladamente, não é sinônimo de “regime ditatorial”. Os Estados Unidos não abandonaram sua democracia após os quatro mandatos de Franklin Roosevelt, na primeira metade do século XX, e nem o PRI necessitou de uma reeleição sequer para governar o México por 71 anos, entre 1929 e 2000. Tempo de permanência de um mandatário no poder é um critério falho para medir o quão democrático é um país. A democracia necessária, ao contrário do que desejam muitos críticos de Chávez satisfeitos com regimes representativos, tem de passar necessariamente pelo empoderamento popular. Nesse aspecto, quem é mais democrático: Chávez ou Uribe?

Uma outra questão levantada na Colômbia é a seguinte: Por que as FARC não abandonam a luta armada, fundam um partido e disputam eleições democráticas?
Porque elas já tentaram isso. Em 1984 firmaram uma trégua com o então presidente da Colômbia Belisario Betancourt. As FARC abandonaram as armas e se transformaram num partido político, União Patriótica (UP). Resultado: o governo da Colômbia se aproveitou do fato e matou três mil militantes, oito congressistas, dois candidatos presidenciais, 11 prefeitos e 13 deputados regionais.
Você, meu arguto leitor, minha sagaz leitora, havia lido essas informações na nossa "grande imprensa democrática"?

Fonte: Agência Carta Maior

Realmente temos que atentar para as informações que "compramos" junto à grande mídia. A tentativa de manipulação é escancarada e, não raro, deparo-me com pessoas que incorporam as opiniões vendidas em (quase) todos os meios de comunicações. Mas certas coincidências merecem uma análise mais cuidadosa: Afinal, porque o tratamento despendido pelo governo dos Estados Unidos e pela nossa mídia ao cenário político latino-americano se assemelha tanto? Porque ambos abertamente atacam Hugo Chávez e defendem Uribe? Até quando nos deixaremos influenciar pela política externa intervencionista (para não utilizar a batida expressão "imperialista") dos Estados Unidos e deixaremos finalmente de nos comportar como uma colônia?

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

FELIZ 2008?

Mais um ano que inicia, mais um leque de expectativas que se abre. O que 2008 reserva para nós? O inicio do ano já comprovou uma teoria que vem ganhando cada vez mais força: estamos acabando com o nosso planeta. O aquecimento global parou de ser uma promessa e passou a ser uma realidade. Não são mais as calotas polares diminuindo lá longe, onde não podemos ver, é o clima bem aqui na nossa frente cada vez mais quente. Quem foi à praia sentiu na pele (literalmente) os efeitos da mudança climática que estamos passando. Mas, além do risco de câncer no bronzeado da morena, e a agricultura? Os efeitos sobre as culturas que dependem de chuva, sol e estações bem definidas podem ser devastadores. Basta estudar um pouco sobre o fim da civilização Maia para percebermos o que acontece quando esgotamos os nossos recursos naturais.
Porém, o ano de 2008 não é só de tristezas. Temos no meio do ano as Olimpíadas para nos fazer esquecer dos problemas, não? Na verdade, não! As promessas de medalhas inéditas na ginástica olímpica ou novas conquistas da natação e do vôlei masculino não vão ser o que mais vai nos chamar a atenção nessas Olimpíadas. Para os mais desavisados, este ano as Olimpíadas se realizarão na China. Teremos a oportunidade de ver a bonança que o capitalismo trouxe aos chineses. Imaginem o que pode acontecer com princípios tão “nobres”, como o consumismo, o individualismo, a competitividade e a desenfreada busca por lucros, dominando o país mais populoso do mundo e, ainda, que tem um grande histórico de conflitos bélicos. Sem querer ser “fatalista”, acho que a China vai nos fazer sentir saudades do imperialismo norte-americano.
A transição da China fechada para a China capitalista comprova o que os marxistas já sabiam: a China nunca foi um país comunista. Na China, o governo nunca abriu mão do poder, que se tornou um fim em si mesmo, e os preceitos do comunismo nunca foram vistos por lá na prática. A transitória forma de governo do partido único se tornou definitiva na China e o povo, ou a Classe Trabalhadora, jamais conquistou o poder. Nunca em qualquer outro país se viu tamanha exploração aos assalariados quanto na China. De modo que, chamá-la de comunista é um atentado a qualquer teoria ou teórico marxista.
Agora, com a cumulação do capital, poderemos ver a China ostentar a exploração do trabalho nos moldes capitalistas. Veremos grandes ginásios, estádios, prédios e outras grandes “odes” à arquitetura moderna que, por trás, escondem horas de trabalho quase escravo. É a mesma filosofia que faz os produtos chineses não terem concorrência com os produzidos nos outros países. É a exploração que trás a bonança que será reverenciada por todos os demais países capitalistas durante as Olimpíadas. É o suor do povo Chinês alavancando os ideais megalomaníacos dos seus autoritários governantes. As Olimpíadas serão um marco, marcando o início do império Chinês. Teremos motivos para sorrir ao assisti-la?
Mas será que 2008 não nos reserva nada de positivo? Bom, aí vai depender de nós. Isto porque em 2008 teremos eleições municipais. Mais um daqueles breves momentos onde exercemos a cidadania e participamos da democracia. A cultura que nos foi imposta é de participar tão somente com o voto da vida política do país. Entre as eleições vivemos num “hiato”, apenas colocando a culpa dos problemas no governo. Mas quem é que coloca aqueles “senhores” lá? E durante os mandatos, entre as eleições, o que fazemos? A maioria não faz absolutamente nada. Mas ainda existe quem justifica a sua inoperância alegando que todos os partidos e políticos são iguais – “tudo farinha do mesmo saco”. Acontece que é justamente isto que deveria mobilizar a nossa participação, e não justificar a nossa omissão. Precisamos lembrar que os políticos são pessoas como nós que em algum momento resolveram tomar uma atitude. Seja para pegar um “pedaço do bolo”, seja para tentar melhorar a situação do país, pelo menos eles não pecam pela omissão. Pior, definitivamente, é quem não faz absolutamente nada.
De qualquer forma, o que as pessoas precisam entender é que o principal momento da falsa democracia em que vivemos hoje, onde os candidatos com mais dinheiro e mais tempo na TV são eleitos, reside nas disputas internas dos partidos políticos. Somente quando a maioria do povo participar ativamente da vida interna dos partidos é que construiremos uma democracia forte e verdadeira. Não precisamos nos candidatar a nada. Basta participar das reuniões e congressos, emitindo opiniões, dizendo quais devem ser as prioridades do partido, como deve ser o seu posicionamento, os projetos de lei que deve priorizar, quais devem ser os candidatos... Desta forma poderemos fiscalizar melhor aqueles que nos representam e participar de forma permanente dos seus mandatos, ajudando a escolher as diretrizes que devem seguir enquanto participam do governo. É uma forma de governar junto e até denunciar irregularidades verificadas.
Não precisamos ser, ou nos considerar, políticos para participar de um partido político, basta ter o interesse em melhorar a realidade do nosso país. Esta com certeza é a melhor forma. Através de uma ONG que retira crianças das ruas, por exemplo, poderemos ajudar ao longo de uma vida talvez cem ou mil crianças. Porém, com a aprovação de uma lei federal que aprove políticas sociais para auxílio a famílias carentes podemos ajudar milhões de pessoas.
Antigamente, com as grandes fábricas, os trabalhadores se concentravam em grandes sindicatos que conseguiam mobilizar a população e pressionar os governos a adotarem políticas sociais para beneficiar as pessoas mais carentes. Hoje em dia, com as modificações na estrutura do trabalho, as terceirizações e a descentralização e automação das atividades produtivas, as pessoas não conseguem mais se organizar em grandes grupos. Isto acabou diminuindo a pressão popular sobre os poderosos. Somente através dos partidos políticos poderemos nos reorganizar em grandes grupos e pressionar os governos e até os controlar. Ações individuais e descentralizadas não têm efetividade prática, apenas com mobilização e organização conseguiremos mudar os rumos do país.
Portanto, procure fazer de 2008 um ano de conquistas. Vamos não só ajudar a eleger políticos honestos e responsáveis, mas participar destas eleições e participar dos seus governos. Os novos vereadores e prefeitos têm que saber que existem muitas pessoas de olho no que eles fazem, somente assim eles se dedicarão a melhorar a situação dos nossos municípios. Pelo menos, tente chegar ao final de 2008 comemorando as vitórias ou chorando pelas derrotas, porém jamais lamentando por não ter nada do que se orgulhar. Lembrem-se: “melhor ser um péssimo coadjuvante que um ótimo espectador, pois este último sequer faz parte do filme”.