quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Mais Venezuela...

Mais informações (ou contra-informação?) sobre as eleições venezuelanas (postado no blog http://anossamidia.blogspot.com/):

E Chávez perdeu ou não perdeu?
Jadson Oliveira

Passados três dias das eleições para governadores e prefeitos (e também parte do que poderíamos chamar deputados estaduais ou vereadores) na Venezuela, as pessoas no Brasil se perguntam:Mas o presidente Hugo Chávez perdeu ou não perdeu?A maioria, penso, deve estar com a primeira alternativa na cabeça, pois foi por aí que a nossa grande mídia trilhou, seguindo, aliás, o script dos últimos dez anos, desde que o povo venezuelano, sob a liderança de Chávez, começou a construir uma democracia participativa em busca do socialismo. Um processo batizado de revolução bolivariana (do libertador Simón Bolívar), mas que a grande imprensa adora chamar de ditadura de Chávez.A cada dia não me canso de admirar a habilidade da nossa imprensa em (de)formar a cabeça das pessoas. Primeiro é dito – uma verdade factual, indiscutível – que o partido do presidente, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), venceu em 17 dos 22 estados em disputa. Uma vitória contundente, não há como fugir disso. Logo em seguida, porém, eles (os agentes da mídia grande) emendam um “mas...”E na hora do “mas”, enchem a bola. Dizem que a oposição ganhou nos grandes centros, que Chávez agora terá de compartilhar o mando com Antonio Ledezma, eleito prefeito de Caracas (Alcaldía Mayor), que em 2004 a oposição ganhou em apenas dois estados e agora ganhou em cinco, e vão por aí.Verdade ou mentira? É uma mescla de verdades, meias verdades, mentiras, distorções, descontextualização, sonegação de informação, chegando ao que gosto de chamar manipulação deliberada da notícia. Vamos devagar:

1 – Realmente os chavistas perderam no estado de Miranda e na Alcaldía Mayor (uma espécie de super-prefeitura de Caracas), um golpe considerável contra os bolivarianos, em qualquer tipo de avaliação, especialmente pelo valor simbólico. Parte da capital, Caracas, pertence ao território de Miranda.

2 – Creio que a derrota na Alcaldía Mayor tem um peso particular, pois o candidato do PSUV, Aristóbulo Isturiz (um negro), é um político popular e representativo das forças governamentais. Antes do processo eleitoral, ele era comentarista político na principal TV estatal (Venezuelana de Televisión).Foi o primeiro a se sentar na cadeira presidencial (um gesto simbólico, ele era então ministro da Educação) quando os golpistas de abril/2002 foram expulsos do Palácio Miraflores pelo povo rebelado nas ruas. E foi o dirigente do PSUV mais votado, entre os 30 que compõem o colegiado, no processo de votação direta dos militantes durante a construção do partido.

3 – Por outro lado, há um dado significativo que a nossa mídia esconde quando ressalta a suposta derrota de Chávez nos grandes centros. Além da existência da Alcaldía Mayor, Caracas comporta cinco municípios: Libertador, Sucre, Baruta, Chacao e El Hatillo, cada um com seu prefeito (alcaide ou, em espanhol alcalde). É uma situação estranha para nós, talvez difícil de se entender.Pois bem. Em Libertador, disparado o mais populoso dos municípios da capital, venceu o candidato do PSUV, Jorge Rodriguez, e isso nunca é lembrado na mídia. Trata-se também de uma figura representativa do chavismo. Foi vice-presidente de Chávez (o vice lá não é eleito, é escolhido pelo presidente da mesma maneira que ocorre com um ministro) e deslocado para a direção do PSUV no processo de criação do partido.

4 – Dizer que a oposição ganhou dois estados em 2004 e agora cinco não dá idéia da realidade. Na verdade, as forças chavistas hoje (antes da posse dos eleitos) enfrentam a oposição de sete governadores (dois que ganharam a eleição e cinco que venceram com o apoio de Chávez, mas romperam com o governo). Após a posse, em janeiro, este número baixa para cinco. Quer dizer, em número de governos, os bolivarianos avançaram mais ainda e não o contrário.

5 – Outro dado “esquecido” por nossa mídia: na comparação dos votos dados aos candidatos chavistas e aos oposicionistas, os primeiros venceram com uma diferença de mais de 1 milhão de votos, o que também contraria a tese tão cara à imprensa de que os grandes centros votaram contra Chávez. Tal diferença é num universo em torno de 11 milhões de votos efetivamente marcados nas maquininhas.

6 – Mais um dado “esquecido”: os chavistas venceram em cerca de 80% dos municípios do país.(Fico imaginando a zoada que aconteceria se o PSUV tivesse perdido no estado de Barinas, terra do presidente. Antes do pleito, já se alardeava a possibilidade dos conterrâneos de Chávez puxarem seu tapete, houve matéria falando até da cidade onde o presidente nasceu, etc e tal. Mas, infelizmente para os sedentos pauteiros da nossa mídia, Adán Chávez, seu irmão, venceu a contenda).Outro fato importante é o comparecimento dos eleitores, em torno de 65% dos quase 17 milhões aptos a votar, um percentual inédito na história do país. E com todo o processo transcorrido de forma satisfatória, com transparência e liberdade de atuação dos oposicionistas, conforme atestam os 134 observadores internacionais, o que se choca com a imagem de truculência que a grande mídia tanto se empenha em forjar contra o líder venezuelano.


Gostaria de acrescentar ao ótimo texto de Jadson duas coisinhas:

1- A direita venezuelana se uniu em uma grande frente de oposição, fez uma campanha fortíssima e apostou todas suas fichas nestas eleições como forma de desestabilizar o governo Chávez e preparar o terreno para as próximas e decisivas eleições presidenciais.
2- Ante este cenário de mobilização da oposição, a imprensa venezuelana e mundial já havia feito uma previsão de que o PSUV perderia em 10 Estados, porém foram apenas 5 derrotas e uma ampla vitória nos municípios.
Isto comprova de forma inequívoca a vitória de Chávez nestas eleições.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A Democracia Brasileira!

Além de termos uma democracia totalmente ilusória no campo das eleições “diretas”, onde ganham aqueles que têm mais dinheiro, com relação às nossas instituições a situação infelizmente não é melhor. As decisões dos nossos tribunais superiores quando não são políticas são corruptas. Podemos relembrar os casos postados aqui mesmo neste blog (http://movca.blogspot.com/2008/08/isto-brasil-captulo-3-as-aes-da-crt.html e http://movca.blogspot.com/2008/07/isto-brasil-captulo-2-stf-sob-suspeita.html), porém eles tratam de nos fornecer exemplos novos diariamente. A nova vítima da “justiça” brasileira é o delegado Protógenes Queiróz, que liderou a investigação que colocou o banqueiro Daniel Dantas atrás das grades (bem como o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta). É lógico que, numa falsa democracia como a brasileira, ninguém coloca uma pessoa tão poderosa na cadeia e sai ileso. Pasmem: Protógenes está sendo investigado e foi colocado outro delegado no seu lugar para assumir o inquérito. Nessas horas, a mídia silencia. Porque será? O próprio delegado Protógenes vai responder:

Trecho da entrevista concedida pelo delegado da PF Protógenes Queiróz à revista Carta Capital (íntegra no link http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=8&i=2560):
Havia mesmo uma espécie de “Sistema Dantas de Comunicação”, como apelidou o jornalista Paulo Henrique Amorim?
Havia, sim, em quase todos os jornais e revistas daqui e até no exterior. Eu me espantei, fiquei assustado, porque era uma coisa que eu jamais poderia imaginar, que uma pessoa teria o poder de manipular a mídia do Brasil. Levei logo o assunto ao conhecimento do procurador (Rodrigo de Grandis, do Ministério Público Federal de São Paulo) e ao juiz (Fausto De Sanctis, da Justiça Federal de São Paulo). Aquilo me causou uma repulsa muito grande e, no decorrer da investigação, isso foi se aprofundando a tal ponto que eu percebi que grandes veículos de comunicação estavam nas mãos do Dantas. Não as empresas todas, mas determinados jornalistas que fabricavam matérias para facilitar os negócios de Dantas, no presente e no futuro. Isso era uma coisa diária, a relação dele com esses jornalistas. Quando o interroguei, até disse a ele que ele seria mais feliz se comprasse um jornal ou uma rede de televisão, porque, como banqueiro, ele não é uma pessoa feliz.

Verbetes que provam a ausência de democracia no Brasil.

Executivo: Eleições diretas => caixa 2, financiamento privado (ganham os políticos que representam interesses de quem possui mais dinheiro), falta de educação para o povo, falta de controle do povo sobre os políticos eleitos, mídia totalmente parcial.

Legislativo: Eleições diretas => idem ao anterior; Fiscalização => após eleito o político nada mais deve aos eleitores, não prestando contas e não havendo uma ferramenta que permita aos eleitores tirá-lo do poder caso não cumpra suas promessas de campanha e vote em projetos contrários a base que o elegeu.

Judiciário: totalmente corrompido; excesso de indicações políticas para cargos importantes, como presidente do Tribunal de Contas, Desembargador dos Tribunais de 2º Grau, Ministro do STF e do STJ e etc., falta de controle popular sobre os Juízes, corporativismo do Poder Judiciário, o lobby das grandes empresas nos tribunais superiores, a necessidade do Judiciário de legislar ante a inoperância do legislativo.

Conclusão: NÃO HÁ DEMOCRACIA NO BRASIL!

Se você quiser ajudar o Delegado Protógenes, está circulando pela internet o e-mail abaixo. Copie e repasse o mesmo para seus contatos:

Exigimos justiça!
Faça sua parte, repassando esta mensagem a todos os seus contatos
Protógenes Queiroz é delegado da Polícia Federal. Foi quem efetuou a prisão de Paulo Maluf, do contrabandista Law Kin Chong, do banqueiro Daniel Dantas, de Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta. Foi ele que conduziu a Operação Satiagraha (Firmeza na Verdade), deflagrada no último dia 08 de Julho, que resultou na prisão do banqueiro corrupto Daniel Dantas, do ex-prefeito de São Paulo e também acusado de crimes de corrupção, Celso Pitta e do mega especulador, Naji Nahas. Na ocasião, Dantas foi preso por duas vezes por determinação do juiz federal Fausto de Sanctis e também liberado nas duas oportunidades pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Vale lembrar que Mendes, além de determinar a soltura de Daniel Dantas, ainda retaliou o juiz Fausto de Sanctis, que determinou as duas prisões, com denúncias na Corregedoria da Justiça Federal, numa clara demonstração de pressão pela posição firme do magistrado. Felizmente, mais de duas centenas de juízes federais se solidarizaram e se manifestaram a favor do colega e contra o presidente do STF, o que evitou medidas mais duras contra Fausto de Sanctis, que apenas cumpriu seu dever, de servidor público. Ao trombar com Dantas e sua influência nos altos escalões da República, Protógenes não recuou. Enfrenta agora o STF, que segundo o ex-ministro da justiça, Fernando Lira, em entrevista à imprensa, atua como se fosse advogado de Daniel Dantas. Enfrenta a cúpula da Polícia Federal, sob o comando de um diretor que é conhecido como "homem de José Dirceu", a mesma cúpula que lhe tirou todas as condições para seguir com suas investigações sobre Dantas, não logrando êxito em parar-lhe. Enfrenta o próprio ministro da Justiça, Tarso Genro. Enfrenta também a grande mídia, que trata o assunto como se fosse uma mera disputa interna na Polícia Federal. Logo em seguida da divulgação da Satiagraha, o delegado Protógenes foi afastado do inquérito, numa clara atitude de fragilizar a continuidade das investigações. De investigador, Protógenes passou a investigado. O juiz federal Fausto de Sanctis, que despachou as ordens de prisão contra Dantas, também é intimidado publicamente. Daniel Dantas - apelidado de "o PC Farias que deu certo" - é sutilmente colocado como vítima de métodos ilegais de investigação. Seus advogados estão ensaiando ir direto ao STF (porque será, Fernando Lira?) para invalidar toda a Satiagraha e suas conclusões. Não podemos aceitar que o banqueiro corrupto continue em liberdade enquanto o delegado e o juiz que determinaram sua prisão sejam perseguidos.
Faça sua parte e exija justiça! Colabore com esta corrente, repassando esta mensagem a todos os seus contatos.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Venezuela - Parte 2

Todo 11 Tiene su 13

As eleições para governador e prefeito ocorreram neste domingo dia 23 de Novembro na Venezuela. Foi mais uma vitória da democracia. Nenhum incidente mais sério foi registrado e o PSUV (partido do presidente Chávez) saiu como grande vencedor, conquistando 17 dos 22 Estados do país.
Após o texto no qual expressei o que vi na minha visita à Venezuela, recebi muitas manifestações me criticando. Porém, em sua totalidade, de pessoas que obtém informações sobre aquele país advindas da Revista-Panfleto Veja e da Rede Globo de alien... ops, de televisão. A minha fonte sou eu. Não tenho de quem reclamar, o que relatei foi simplesmente o que vi. Mas, é preciso ponderar que a situação da democracia venezuelana não pode ser comparada a nossa. Afinal, o governo Chávez sofreu um de golpe de Estado realizado pelas elites daquele país. Aposto que o Governo brasileiro, assim como o de qualquer outro país, tomaria sérias precauções após verem a elite desprezar o Estado Democrático de Direito em nome de seus interesses.
A democracia não é um valor relevante para as elites. Ela serve enquanto políticos subservientes estiverem no poder. Quando este político a contraria, eles "cagam" para a democracia. Temos dezenas de exemplos aqui mesmo na América Latina. Parece que eles esquecem os anos de ditadura ao entonar a voz para bradar contra atos supostamente totalitários dos governos de esquerda latino-americanos. São lobos que, quando não controlam a "fazenda", se travestem de cordeiros, mas, na primeira oportunidade, mostram a sua verdadeira face.
Tem uma frase muito famosa na Venezuela que diz o seguinte: "Todo 11 Tiene su 13", numa referência ao golpe ocorrido. No dia 11/04/2002 Chávez foi retirado do poder, para ser carregado de volta pelo povo dois dias depois, no dia 13. Porém, o espírito democrata superou o trauma gerado pela direita fascista venezuelana. Esta mesma direita que desrespeita os princípios republicanos pôde se organizar. E se organizaram! Fizeram uma ampla frente, onde se aliaram todos os partidos de oposição. Enquanto milícias de esquerda foram sumariamente executadas quando seus planos de golpe foram descobertos, na Venezuela não. Lá os golpistas puderam se organizar e tentar se eleger pela via democrática, com todos os direitos conferidos aos demais partidos. Mas o povo venezuelano sentiu o gosto do poder e a direita sabe que sem trapaças será dificil conter a revolução socialista, bolivariana e DEMOCRÁTICA que ocorre no país.

Mais informações sobre as eleições venezuelanas do último domingo (fonte: Jornal Brasil de Fato):


Para Chávez, participação popular nas eleições reafirma seu governo
por Michelle Amaral da Silva última modificação 24/11/2008 16:05
O processo eleitoral se caracterizou pela participação massiva de eleitores.

24/11/2008
da Redação
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela divulgou, ainda na noite do domingo(23), o primeiro boletim oficial dos resultados das eleições regionais e municipais, nas quais registrou-se a participação de 65,45% da população, a mais alta de todos os processos eleitorais deste tipo realizados no país.
Nesta jornada de eleições regionais e municipais elegeu-se 603 cargos; sendo 22 governadores dos 23 Estados do país, 328 prefeitos e mais de 200 legisladores locais.
A atividade eleitoral foi caracterizou-se por uma massiva participação cidadã, que ficou explícita nas longas filas formadas fora dos centros de votação desde a madrugada do domingo, e que se estenderam, inclusive, depois do fechamento das mesas, marcado para as 16 horas.
Diante da presença de eleitores fora dos centros de votação, a CNE anunciou que tal como dispõe a lei eleitoral, todas aquelas mesas que tinham eleitores esperando para votar permaneceriam abertas.
Pela manhã, depois de exercer seu direito à votação, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, insistiu que o voto é um “dever moral” dos cidadãos e, assim, pediu para a população comparecer de forma massiva às urnas, esperar com “calma e paciência” os resultados e aceitá-los.
O presidente voltou a destacar que o sistema automático de votação venezuelano “é um dos mais transparentes e confiáveis do mundo”, visto que inclui “auditorias prévias, in situ, e posteriores”, testemunhas de mesa dos “mais variados partidos”, além de observadores internacionais.
Vitória do PSUV
O presidente venezuelano parabenizou, nesta segunda-feira (24), ao governista Partido Socialista Unido da Venezuela(PSUV) por sua vitória nas eleições regionais que se celebraram neste domingo(23), na qual ao todo conseguiu 17 dos 22 governos disputados.
“Esta foi a primeira prova de fogo do PSUV e segue como tem saído, com a vitória de 17 governos”, assinalou o presidente que também agradeceu ao povo venezuelano pela alta participação registrada nos comícios.
Também reconheceu a vitória da oposição no estado Miranda (norte), em Nueva Esparta (noroeste) e da prefeitura metropolitana Mayor de Caracas.
“Reconheço os resultados ao mais alto comportamento democrático. Oxalá que se dediquem a governar com transparência, com dignidade e com respeito todos esses estados sempre debaixo do poder da Constituição. Reconheço seu triunfo e espero que eles reconheçam ao chefe de Estado e ao processo que vive atualmente a Venezuela”, reiterou Chávez.
Chávez demorou um pouco para fazer o chamado a Antonio Ledezma, eleito prefeito de Caracas, para parabenizá-lo pela vitória e para pedir-lhe que “não volte pelos velhos caminhos do golpismo”.
Igualmente disse que começa uma nova etapa no socialismo Bolivariano pelo triunfo contundente deste domingo. “o povo me pede como líder que siga por este caminho democrático”.
“Esta é uma grande vitória do país e da Constituição, e oxalá que mais ninguém na Venezuela trate de sair do marco desta Constituição como já o fizeram durante os sucessos que se geraram durante os anos de 2002 e 2003”, advertiu o presidente.
O presidente rechaçou também as declarações dos setores da direita, que o acusam de ditador. “Continuem dizendo que Chávez é um ditador que maneja o CNE e as demais instituições, isso é falso (...) faço um chamado à oposição que voltem à razão e ponham os pés sobre a terra e se convençam que somos respeitosos”, manifestou o chefe de Estado.
Chávez se mostrou satisfeito pelo processo eleitoral deste domingo. Contudo, disse que poderia ser aperfeiçoado e abrir muitas mais mesas de votação para evitar as longas filas de cidadãos a espera para exercer seu direito à votação.
Neste domingo, mais de 16 milhões de venezuelanos foram às urnas para renovar as autoridades regionais e municipais do país, em um processo que contou com 65,45% da participação do eleitorado. (Com agências internacionais)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Venezuela: A Esperança da América!

Um país em ebulição. Algo ocorre na Venezuela. Até o mais desavisado que por lá passar pode perceber. Os muros anunciam o socialismo. As placas publicitárias anunciam o socialismo. O povo, as revistas, a televisão, os jornais anunciam o socialismo. De fato, o socialismo está longe de realmente existir na Venezuela. O que há, ainda, é o reflexo de um país que por séculos teve a sua riqueza roubada por países e corporações estrangeiros. Um dos países mais pobres da América convivia com a dicotomia de ser um dos mais ricos em recursos naturais. Isto persistiu por séculos, porém agora a ordem começa a ser invertida. Se materialmente o povo venezuelano ainda não sente uma mudança efetiva, ao menos moralmente esta mudança é visível. Pode se perceber pelo rosto dos venezuelanos que, pela primeira vez na história, a sua etnia originária está no poder. E isto os orgulha demais! Pude observar na cara de cada caraquenho um Hugo Chávez. Incrivelmente todos se parecem com ele. Não apenas fisicamente, são alegres, malandros, efusivos, falantes, mas ao mesmo tempo brabos e dispostos. Não observei nenhuma espécie de fanatismo, mas um orgulho por, finalmente, ter um dos seus no comando do país. O venezuelano, assim como o brasileiro (do Mampituba para cima, lógico), é um povo pacífico, alegre e muito musical. Percebe-se no seu povo, assim como no Brasil, que pela sua herança histórica e cultural uma revolução armada seria muito difícil de ocorrer. No entanto, isto não os impede de fazer uma revolução. Ao seu modo. Tudo na Venezuela lembra a revolução (que segundo eles está em curso) e o socialismo. “Para a revolução é preciso um Banco forte”, prega o anúncio publicitário. “Não há revolução sem educação”, diz o ônibus escolar. “Não podemos fazer a revolução com sonegação de impostos”, diz a mensagem do governo. Passei por vários estabelecimentos comerciais que estampavam um grande adesivo com os dizeres: “estabelecimento EM MORA com a seguridade social do povo venezuelano”. O país passa por uma mudança cultural irreversível, na qual é mais importante o bem coletivo, a valorização do social, a honestidade, do que simplesmente acumular patrimônio. A importância disto é inestimável. Muito maior do que qualquer plano econômico mirabolante que apenas posterga o inevitável colapso de um sistema que prega, como fundamento, a competitividade feroz e a valorização financeira das pessoas. A Venezuela também tem seus problemas e não haveria de ser diferente. O seu povo carrega uma herança de anos de exploração. A cultura do capitalismo também não é fácil de ser extirpada. O consumo exacerbado e a ganância ainda estão presentes em grande escala. Porém, percebe-se que lá o primeiro passo para um futuro melhor foi dado. A experiência venezuelana é de fundamental importância para todos que sonham com um mundo mais fraterno. A mudança lá não veio com armas e tiros, foi uma mudança democrática. Ninguém questiona na Venezuela que Chávez conta com o apoio da grande maioria do povo venezuelano. Por óbvio que, sem ruptura, as transformações tendem a ser mais lentas, porém menos traumáticas. Espero que Chávez não insista em se perpetuar no poder e deixe a sociedade moderna experimentar pela primeira vez uma transformação socialista e democrática. Respeitando as liberdades individuais, ampliando a democracia direta e caminhando rumo ao socialismo, Chávez pode fazer história e fazer da Venezuela um exemplo a ser seguido. É lógico que o poder seduz e a centralização do poder corrompe, mas percebi que a democracia ainda impera na Venezuela, o que me deu grandes esperanças. No dia 23 de Novembro terão eleições para governador, prefeitos e deputados. Enquanto estive lá a campanha estava a todo vapor. Muita propaganda nos postes, nas ruas, na televisão e nenhum tipo de coerção contra candidatos de oposição a Chávez. Pude observar a manifestação de muitos, sempre com a liberdade exigida por um regime democrático. Claro que Chávez tentava emprestar um pouco do seu carisma e popularidade aos candidatos do seu partido (PSUV – Partido Socialista Unido da Venezuela), mas nada muito diferente do que vimos o presidente Lula fazer aqui no Brasil nas eleições municipais. A derrota no referendo foi um recado do povo a Chávez. O povo quer o socialismo, mas de forma democrática. De qualquer modo, apenas saberemos o desfecho desta história nas próximas eleições presidenciais. Mas, uma coisa é certa: a Venezuela mostrou que o povo pode e deve ser protagonista. Não foi à toa que após o êxito de Chávez, vieram Lula, Evo, Lugo e outros. Talvez a vitória de Obama nos EUA signifique um pouco desta mudança. A Venezuela acendeu a fagulha da esperança e quem sonha com um mundo mais justo esta tratando de espalhar esta “chama”.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Conservadorismo de Esquerda*

Publicado na revista Caros Amigos em agosto de 2008, com o título "Conservadorismo de esquerda degenera em autoritarismo". Acho uma leitura muito interessante para quem se considera um militante de esquerda.

Os grandes partidos socialistas não perderam a razão de ser, como querem seus adversários, mas precisam encontrar renovações programáticas e metodológicas que suplantem o perigo da obsolescência. A identidade progressista não pode resumir-se à defesa genérica do Estado, da igualdade social, do meio-ambiente e de grupos minoritários – plataformas insuficientes para as pretensões envolvidas e sujeitas à apropriação por qualquer projeto de poder.A adesão ao pragmatismo eleitoral, embora inevitável e talvez positiva em longo prazo, trouxe consigo o cinismo publicitário e as demandas de forças políticas obscuras. Para garantir votos e governabilidade, administrações formalmente renovadoras acatam excrescências ideológicas que prejudicam ou anulam os avanços conquistados. A convivência de opostos exige medidas conciliatórias que terminam gerando híbridos monstruosos. A predominância estatal e o discurso moralizador, quando impregnados pelo retrocesso, transformam-se em instrumentos para políticas repressivas, atrasadas e indignas da cartilha esquerdista.Muitas dessas metamorfoses nascem de distorções externas aplicadas a iniciativas originalmente razoáveis. Uma ação contra o banditismo tecnológico resulta em censura à internet. A lei que regulamenta a venda de bebidas alcoólicas nas rodovias vira uma forma inconstitucional e autoritária de achaque aos motoristas. A proteção à saúde dos não-fumantes degenera em criminalização do tabagismo.A base parlamentar frágil e a hostilidade generalizada dos meios de comunicação fazem o governo Lula particularmente vulnerável a tais contaminações. O fenômeno torna-se mais grave porque representa quase sempre um recuo no âmbito das liberdades individuais, que deveriam compor o cerne do ideário progressista moderno.

* Guilherme Scalzilli.