quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Venezuela: A Esperança da América!

Um país em ebulição. Algo ocorre na Venezuela. Até o mais desavisado que por lá passar pode perceber. Os muros anunciam o socialismo. As placas publicitárias anunciam o socialismo. O povo, as revistas, a televisão, os jornais anunciam o socialismo. De fato, o socialismo está longe de realmente existir na Venezuela. O que há, ainda, é o reflexo de um país que por séculos teve a sua riqueza roubada por países e corporações estrangeiros. Um dos países mais pobres da América convivia com a dicotomia de ser um dos mais ricos em recursos naturais. Isto persistiu por séculos, porém agora a ordem começa a ser invertida. Se materialmente o povo venezuelano ainda não sente uma mudança efetiva, ao menos moralmente esta mudança é visível. Pode se perceber pelo rosto dos venezuelanos que, pela primeira vez na história, a sua etnia originária está no poder. E isto os orgulha demais! Pude observar na cara de cada caraquenho um Hugo Chávez. Incrivelmente todos se parecem com ele. Não apenas fisicamente, são alegres, malandros, efusivos, falantes, mas ao mesmo tempo brabos e dispostos. Não observei nenhuma espécie de fanatismo, mas um orgulho por, finalmente, ter um dos seus no comando do país. O venezuelano, assim como o brasileiro (do Mampituba para cima, lógico), é um povo pacífico, alegre e muito musical. Percebe-se no seu povo, assim como no Brasil, que pela sua herança histórica e cultural uma revolução armada seria muito difícil de ocorrer. No entanto, isto não os impede de fazer uma revolução. Ao seu modo. Tudo na Venezuela lembra a revolução (que segundo eles está em curso) e o socialismo. “Para a revolução é preciso um Banco forte”, prega o anúncio publicitário. “Não há revolução sem educação”, diz o ônibus escolar. “Não podemos fazer a revolução com sonegação de impostos”, diz a mensagem do governo. Passei por vários estabelecimentos comerciais que estampavam um grande adesivo com os dizeres: “estabelecimento EM MORA com a seguridade social do povo venezuelano”. O país passa por uma mudança cultural irreversível, na qual é mais importante o bem coletivo, a valorização do social, a honestidade, do que simplesmente acumular patrimônio. A importância disto é inestimável. Muito maior do que qualquer plano econômico mirabolante que apenas posterga o inevitável colapso de um sistema que prega, como fundamento, a competitividade feroz e a valorização financeira das pessoas. A Venezuela também tem seus problemas e não haveria de ser diferente. O seu povo carrega uma herança de anos de exploração. A cultura do capitalismo também não é fácil de ser extirpada. O consumo exacerbado e a ganância ainda estão presentes em grande escala. Porém, percebe-se que lá o primeiro passo para um futuro melhor foi dado. A experiência venezuelana é de fundamental importância para todos que sonham com um mundo mais fraterno. A mudança lá não veio com armas e tiros, foi uma mudança democrática. Ninguém questiona na Venezuela que Chávez conta com o apoio da grande maioria do povo venezuelano. Por óbvio que, sem ruptura, as transformações tendem a ser mais lentas, porém menos traumáticas. Espero que Chávez não insista em se perpetuar no poder e deixe a sociedade moderna experimentar pela primeira vez uma transformação socialista e democrática. Respeitando as liberdades individuais, ampliando a democracia direta e caminhando rumo ao socialismo, Chávez pode fazer história e fazer da Venezuela um exemplo a ser seguido. É lógico que o poder seduz e a centralização do poder corrompe, mas percebi que a democracia ainda impera na Venezuela, o que me deu grandes esperanças. No dia 23 de Novembro terão eleições para governador, prefeitos e deputados. Enquanto estive lá a campanha estava a todo vapor. Muita propaganda nos postes, nas ruas, na televisão e nenhum tipo de coerção contra candidatos de oposição a Chávez. Pude observar a manifestação de muitos, sempre com a liberdade exigida por um regime democrático. Claro que Chávez tentava emprestar um pouco do seu carisma e popularidade aos candidatos do seu partido (PSUV – Partido Socialista Unido da Venezuela), mas nada muito diferente do que vimos o presidente Lula fazer aqui no Brasil nas eleições municipais. A derrota no referendo foi um recado do povo a Chávez. O povo quer o socialismo, mas de forma democrática. De qualquer modo, apenas saberemos o desfecho desta história nas próximas eleições presidenciais. Mas, uma coisa é certa: a Venezuela mostrou que o povo pode e deve ser protagonista. Não foi à toa que após o êxito de Chávez, vieram Lula, Evo, Lugo e outros. Talvez a vitória de Obama nos EUA signifique um pouco desta mudança. A Venezuela acendeu a fagulha da esperança e quem sonha com um mundo mais justo esta tratando de espalhar esta “chama”.

Um comentário:

Lito "Tchê" Solé disse...

PORQUE ESTOU AJUDANDO HUGO

Por Ken Livingstone (*)

Existem alguns países cuja realidade é distorcida por setores da mídia. E alguns sobre os quais mentiras absolutas são escritas a seu respeito. Minha primeira viagem a Caracas revelou que a Venezuela está firmemente nesta segunda categoria.

A idéia de que este país é uma ditadura é ridícula ? provavelmente alguns daqueles que a promovem assiduamente têm dificuldade em não cair no riso. Que ?ditadura? é esta, onde o presidente aceita a perda de um referendo para modificar a constituição, que promove mais eleições nacionais do que virtualmente qualquer outro país no mundo, e onde as paredes e postes de luz em áreas de Caracas estão vividamente ornados com pôsteres de candidatos anti-Chávez? Não, uma ditadura é um país como a Arábia Saudita ? cujo líder, evidente, é oficialmente festejado em visitas a Londres.

Acompanhando uma reunião de candidatos pró-Chávez sobre as eleições que estão por vir para o governo local na capital, era evidente que eles não tinham a menor certeza quanto ao seu sucesso ? assim como aconteceu com o referendo constitucional recente, uma derrota é possível. A discussão, como em qualquer eleição local na Grã-Bretanha, era sobre como buscar uma solução para as questões práticas afetando a qualidade de vida das pessoas.

Caracas mostra visivelmente os problemas que o país enfrenta e o progresso feito nos últimos anos. Nos bairros centrais a oeste, as casas da velha elite e da classe média-alta são melhores do que as casas no subúrbio mais caro de Londres. Elas são cercadas por vários milhões de pessoas vivendo na pobreza em "barrios" ? favelas construídas de qualquer jeito, empoleiradas nas encostas de montanhas e sem a menor infra-estrutura. Estas áreas nem constavam nos mapas das administrações anteriores!

Esse é o produto de um sistema onde dezenas de bilhões de dólares de riqueza do petróleo foram enviados para o exterior para servir a essa elite, sem buscar uma solução para as questões mais elementares da qualidade de vida da maioria do povo.

Isso mudou. Uma visita a um dos tantos centros comunitários novos mostrou como milhões de pessoas tiveram acesso a um novo sistema de saúde pública gratuita, incluindo odontologia. O analfabetismo foi eliminado ao nível dos padrões da Unesco. O acesso à educação está sendo rapidamente expandido.

Uma prioridade de máxima importância agora é transformar a infra-estrutura básica por toda a cidade. De maneira que, como os candidatos a prefeito colocaram para mim, as pessoas se sintam como cidadãos com direitos nos seus bairros.

As chaves são reduzir o crime e transformar a eficácia econômica e a qualidade de vida da cidade.

Um programa extraordinário de expansão das linhas de metrô e trem nas áreas pobres foi iniciado. Junto com isto é necessário atacar os problemas do congestionamento, do lixo e proteção ambiental, melhorar os serviços de ônibus e desenvolver o policiamento comunitário.

A Venezuela sempre teve os recursos e agora ela tem a vontade política para começar a alçar as suas cidades aos padrões mundiais. Mas ela precisa de habilidade para fazer isto com rapidez e eficiência.

É aí que a experiência de Londres pode ajudar. Entre 2000 e 2008, Londres foi reconhecida como a cidade do seu tamanho de maior sucesso no mundo, ao transformar os seus serviços de ônibus, colocar a polícia de volta nas comunidades locais, atacar o congestionamento do tráfego e vencer a disputa pela Olimpíada.

Esta experiência está sendo procurada por muitas outras cidades ? incluindo Caracas. É por isso que o presidente Chávez me convidou para a Venezuela e é por isso que, juntamente com outras cidades, me sinto satisfeito em continuar o projeto de consultoria e debate entre Londres e a Venezuela.

(*) Ex-prefeito de Londres. Artigo publicado no jornal britânico The Guardian em 29/08/2008, original aqui.
Fonte: Fazendo Media