O Sistema Híbrido e Ineficaz.
O governo norte-americano, diante de uma das maiores crises dos últimos anos, foi obrigado a estatizar várias empresas a fim de salvar a sua economia. A iminente falência das empresas ligadas ao financiamento imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac e, posteriormente, a seguradora AIG, levou o governo Bush a investir milhões de dinheiro público para incorporar estas empresas ao Estado e salvá-las da bancarrota. E a doutrina capitalista, a auto-regulação e a lei do mercado? Os princípios do liberalismo parecem ter sucumbido ante o pragmatismo da vida real.
Muitos podem classificar a ação do governo dos EUA, maior expoente do capitalismo, como marco da derrocada deste modelo econômico. Porém, tal visão contém certo teor de oportunismo, semelhante aos discursos de “morte” do socialismo após a queda do muro de Berlin.
A verdade é que tanto o socialismo como o capitalismo não chegaram a ser implementados porque fracassaram no meio da transição. Enquanto a URSS fortalecia o Estado para combater a burguesia, este mesmo Estado criou uma casta burocrática que não quis perder seus privilégios e expandir a revolução ao seu próximo estágio (onde entregaria todo o poder ao povo). Já nos EUA os ciclos de crise sempre se repetem e sempre acabam com a forte intervenção estatal, como acontece agora. O que sobrou de ambas as tentativas foi um modelo híbrido, cada um com suas prioridades, mas ambos desligados das suas matrizes teóricas.
A intervenção do Estado norte-americano se fez necessária, assim como no “Crack” da Bolsa de Nova Iorque de 1929, para salvar a economia. Assim como se faz necessário que em Londres o Estado forneça saúde gratuita à população, ou em Cuba se aceite a participação de empresas privadas na economia. A partir do surgimento das teorias socialistas e da participação do povo nas decisões, com o fortalecimento da democracia, o Estado sempre se fez presente. Com uma maior interferência em momentos de crise, mas sempre regulando a relação capital-trabalho e equilibrando as diferenças decorrentes dos meios de produção. São Estados socialistas em economias capitalistas, sem correspondente nos livros de Karl Marx, tampouco nos de Adam Smith.
Esse panorama somente pode ser mudado pela via da ruptura total. Mas, o modelo atual é eficaz em estancar rupturas, pois sempre que uma das classes tenciona há ampla margem de concessão. Se o povo sai às ruas, entra o “Estado socialista” e aumenta direitos, benefícios, salários... o que for necessário para esvaziar a luta. Se o empresariado se revolta, aí entra o “Estado capitalista”, diminuindo impostos, reduzindo os juros, aumentando os créditos e subsídios... Vivemos num sistema econômico tão conciliador que beira à promiscuidade.
O problema é que o cobertor é curto demais e não tapa todos os furos de um modelo com tantas contradições. A desigualdade social permanece e a maioria da população mundial segue em condição miserável. A sociedade, cada vez mais individualista, já não se organiza. A válvula de escape é o crescimento da violência. O povo segue sendo sacrificado, porém com uma dose maior de “assistência”.
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