sexta-feira, 25 de julho de 2008

Tolerância Zero no Trânsito!

A nova lei de trânsito, que institui a tolerância zero no consumo de álcool entre os motoristas, está causando um rebuliço no país. Sinceramente, não sei bem o que pensar sobre esta lei. Qualquer opinião que eu emita pode ser completamente tendenciosa. Isto porque eu estou entre as pessoas mais afetadas por esta lei. Já faz parte da minha cultura, assim como de grande parte dos brasileiros, sair para tomar uma cerveja com os amigos. Crescemos com forte influência desta noção de satisfação. Isto acaba por nos tornar dependes desta prática. O dia que termina com uma confraternização entre amigos “regada” por cerveja é muito mais prazeroso! Porém, como voltaremos para casa agora? De ônibus? Eles não atendem todos os bairros à noite e depois de determinado horário é muito perigoso. De táxi? Uma corrida média não sai por menos de R$ 15,00, ida e volta vira R$ 30,00. Mais o gasto com a cerveja e um aperitivo... bom, aí já fica caro demais para sair de casa. Achar um amigo que não beba? Não conheço nenhum e imagino que, se exista, não vai querer sair... Diante disso, poderemos nos tornar cada vez mais reclusos. Alguns já preferem ficar em casa, com amigos virtuais na internet. Será que a tendência moderna é a completa reclusão? Todos trabalharão e permanecerão em casa, trocando arquivos on line, se vendo por web câmeras, compartilhando arquivos ao invés de sentimentos!?!

Não há como questionar os benefícios práticos da nova lei, com a diminuição de acidentes no trânsito, mas esta justificativa nos remete a Maquiavel. Será que “os fins justificam os meios”? Bom, se for assim podemos instituir o “toque de recolher”, com certeza diminuiria a violência. Podemos esterilizar todos os pobres, a fim de acabar com os problemas de pobreza, violência, falta de alimentos, moradia... Podemos, também, assassinar os ricos para melhorar a distribuição de renda...

Não podemos deturpar valores e princípios para atingir os nossos objetivos.


Mas, como eu disse no início, a minha visão pode ser considerada parcial. Talvez uma mãe que tenha perdido um filho num acidente de carro envolvendo um motorista embriagado tenha uma opinião completamente diferente.

Apenas considero que devemos ter cautela com tudo aquilo que atente contra nossas liberdades individuais. É preciso ter bom senso, talvez essa lei seja benéfica por ora, porém temos que trabalhar em prol da educação e conscientização das pessoas para que tomem suas decisões de forma correta, sem reprimir a sua liberdade. O problema não está nos muitos que bebem uma cervejinha e vão para casa de carro, mas nos poucos irresponsáveis e suicidas que usam o veículo como uma arma. Enquanto estes poucos estiverem causando todo o estrago que vemos diariamente no trânsito das cidades brasileiras, teremos que conviver com a nossa liberdade restringida. Em contrapartida, com um maior equilíbrio social, mediante distribuição de renda e educação, não passaríamos por isso... até lá... teremos que esperar a conscientização do povo e seguir arriscando sermos presos numa blitz. Porque, depois de uma vida inteira, não é fácil mudar velhos costumes!

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom debate.

Para mim, certamente os fins NÃO justificam os meios. Tanto não justificam, que eu defendo maiores discussões sobre a legalização do aborto e da utilização de células tronco. Será que a morte de uma criança não desejada, ainda não nascida, justificaria a comodidade de uma mãe adolescente, ou ainda, menos um pedinte numa sinaleira? Para mim, conforme já disse, os fins NÃO justificam os meios. A questão das células tronco é mais complexa, pois envolve o conceito de vida humana. Por envolver questão tão complexa, talvez a mais complexa de todas, acredito que opiniões apressadas e envolvidas por conteúdo ideológico por todos os lados não podem ser consideradas sérias, sem as devidas pesquisas sérias e questionamentos filosóficos.

Na questão das bebidas alcoólicas e o trânsito, ainda acredito que a melhor solução seria manter a legislação passada, com a fiscalização que existe atualmente. Impor um limite de consumo de bebida alcoólica, mas fazer uma fiscalização eficiente. Afinal, não podemos colocar no mesmo barco um cara que usou listerine antes de sair de casa e um bêbado contumaz que coloca em risco vidas de outras pessoas.

Realmente, eu tenho sofrido grande influência com a nova legislação. Para mim, não existe coisa melhor do que sentar num dia de calor, em algum bar, de preferência na rua, embaixo de algumas árvores, e tomar algumas cervejas ou chopes depois de um dia de trabalho, para desopilar e relaxar. Ou ainda, sair para jantar num dia frio de inverno e tomar uma garrafa de vinho com namorada e amigos. Tenho deixado de fazer este tipo de programa. Às vezes, faço este tipo de programa em casa, mas não é a mesma coisa. Têm vezes que chuto o balde e nem quero saber: tomo um trago de uma vez em algum bar e volto dirigindo, pois sei que beber 3 chopes num barzinho distante 3 quadras da minha casa e beber uma garrafa de cachaça dirigindo um caminhão numa BR 101 são a mesma coisa. Sempre gostei de sair para a rua, de ir em bares, restaurantes, de conversar numa mesa, seja comendo, seja bebendo. Somente agora fui fazer, por exemplo, um orkut. Não gosto deste tipo de amizade virtual. Sempre preferi conversar com as pessoas que gosto, rindo, discutindo, batendo boca, frente a frente. Hoje mesmo vou fazer um churrasco com uns amigos. O local é distante da minha casa, logo terei que ir de carro. Como eu vou comprar a carne e as bebidas, já pensei em comprar umas Heinekens e deixá-las bem geladas. Na frente da churrasqueira, com o calor pegando, tomar uma ceva bem gelada, com um assado. Ou ainda um vinho, Malbec ou Tannat, para ficar no conesul. Mas já não será possível...

Mas a mudança de legislação tem um lado bom: ensinar as pessoas a se divertirem sem precisar beber. Por que a diversão deve estar necessariamente ligada a uma substância química? Claro que beber uma cervejinha, uma caipirinha ou um vinho relaxa. Mas é possível tirar o stress através de outras medidas.

Falou.
Marcelo Salamoni